
A Cida L. pediu ajuda na caixa de comentários do único post que fiz sobre a Serra da Estrela, para uma viagem de carro que fará agora em outubro com duas amigas. O Toni Gravata, gentil como um lorde inglês (lorde inglês é gentil? não sei, mas se for, o Toni é desse tipo), conhecedor da área, fez um roteiro supimpa, reforçado pelas dicas da também portuguesa Isabel O., uma amiga destes curiosos tempos da internet.
Estivemos na Serra em 2004, Teté, filhas e eu, vindos de Madrid. Fizemos uma escala na cidade da Guarda, onde nosso amigo Toni transformava um velho lagar com espessas paredes de pedras na sua casa à prova de terremotos 8 pontos na Escala Richter.
Ficamos poucos dias. Fomos interrompidos pelo atropelamento de um gato, da espécie folgatus felinus, hoje entronizado na ordem dos cetáceos, em São Pedro do Estoril e que exigiu a presença urgente da família para confortá-lo pelo transe doloroso.

Na foto da Teté, Chico Buarque de Holanda exibe suas cicatrizes enquanto toma uma ducha rápida
Foi um passeio tão rápido que tenho dificuldade de associar nomes e lugares. Mas a memória (ou, no meu caso,vaga lembrança) afetiva não me trai.
Lembro perfeitamente por exemplo que adorei almoçar no Vallécula, em Valhelhas (sei destes nomes agora, lendo embaixo as dicas do Toni para a Cida).


Toni disseca um pudim (será de pão?) no Vallécula, eu sou praticamente um militante do movimento “Salvem o Leite Creme”
Depois fomos descansar à margem do rio com a família reunida, rindo e falando abobrinhas, ou, dependendo de que lado você está do Atlântico, curgetes.


Subimos a Serra num lindo dia de sol e, num esforço de enquadramento, nos fotografamos como se estivéssemos a ponto de esquiar nos escassos blocos de gelo remanescentes do inverno junto à estrada.

Admiramos a torre no ponto mais alto de Portugal e as vacas que ali pastavam (???).


Também andamos pela cidade da Guarda, onde o que mais me chamou a atenção, além do belo centro histórico, foi a frase de D. Sancho I, fundador da cidade, ao pé da sua estátua: “Ai muito me tarda o meu amigo na Guarda”.

Como não poderia deixar de ser, muitas interpretações se fizeram ao verso do bardo lusitano. O uso do vocábulo “Ai” no início da frase levou a muitas precipitações homófobas. Mas confesso que a mim também me tarda o meu amigo na Guarda, ainda que eu me poupasse de emitir um “Ai”, sem ver qualquer demérito para quem o faça.

O meu testemunho sobre a cidade da Guarda não seria completo sem mencionar o mais desinibido gárgula, se podemos chamar assim, que já vi. No alto da antiga Catedral, a escultura de uma bunda com um, perdão pela crueza do linguajar, cu profundo e tenebroso voltado na direção de Espanha mostra como os irmãos ibéricos praticam com gosto a etiqueta da boa vizinhança.

Espero em breve voltar lá, para conhecer melhor aquilo que vi de passagem. Enquanto esse dia não vem, deixo com vocês as dicas do Toni e da Isabel para a Cida L.
“Outubro já é um mês bonito, com a paisagem a verdejar, temperatura agradável e menos gente nas estradas, que são seguras, com as devidas precauções nas zonas das curvas de serra”, informa com precisão Toni Gravata. Que dá o rumo:
“Na região do Sabugal, é imperdível uma visita a Sortelha, aldeia muralhada, em grande parte recuperada, muito bonita.

“Pode passear na muralha, a vista é deslumbrante.


(Abro aqui parênteses para alertar sobre os riscos de se utilizar a escada errada para descer das muralhas. Como se pode ver na foto abaixo, até mesmo os nativos se atrapalham com a tosquidão arquitetônica medieval e por muito pouco não sucumbiram ao vexame de chamar o resgate para serem retirados daquela arapuca)

(Aproveito os mesmos parênteses para salientar que em Portugal ainda se acham lugares como este, belos e autênticos, poupados da descaracterização provocada pelo turismo de massa)


“Daí – prossegue Toni -, recomendo seguir para Belmonte, berço de Pedro Álvares Cabral, com um património histórico e cultural vasto e bem assinalado. Seguindo em direcção a Manteigas, passará por Valhelhas onde o almoço no famoso Vallécula é imperdível.

Paisagem campestre em Valhelhas, à margem do rio
“A estrada para Manteigas, ao longo do rio Zêzere, é um lindo passeio, continuando a subida da Serra sempre pelo vale do rio, até à nascente, e continuando até aos Piornos, ponto mais alto do País.

Na foto da Teté, a estrada que leva ao topo de Serra
“Daí, eu gosto de descer para Seia, do lado norte da Serra e rumar a Gouveia, Celorico da Beira e Guarda. Um pouco mais a norte da Guarda, recomendo visitar Almeida e Castelo Rodrigo, duas vilas muralhadas mas de épocas e arquiteturas completamente diferentes.”
Ao que a Isabel acrescentou:
“Em Belmonte abriu recentemente um museu chamado ‘À Descoberta do Novo Mundo’, centrado sobre o Brasil e a viagem de Pedro Álvares Cabral. É engraçado, moderno e vê-se bem.
“Nessa altura do ano (outubro) já é mais fácil arranjar alojamento. Há muita variedade. O mais económico para esses lados são as pensões/residenciais, mas também já há outras opções como turismo de habitação a preços razoáveis e apartmentozinhos.
“Eu já por duas vezes que fico aqui – www.quintadoforninho.com.pt. Não é bem dentro da Serra mas o acolhimento, o preço e a possibilidade de poder comer em casa agradam-nos (não será o vosso caso que devem estar em trânsito, é diferente de sair de casa de carro com o que é necessário).
“Noutro nível já ficámos aqui – é absolutamente recomendável (e vale mesmo o preço) – www.casadaspenhasdouradas.pt ou www.wonderfulland.com. Penhas Douradas é ao pé de Manteigas.”
Isabel ainda recomendou o trajeto que a Cida quer fazer de Évora à Serra:

“Évora – Estremoz – Portalegre – Castelo Branco – Covilhã (aí está na Serra e fará uns passeios – no Turismo dão-lhe mapas)… depois ou faz Covilhã-Seia – Viseu (por dentro do Parque Natural da Serra) ou Covilhã – Belmonte – Guarda – Celorico da Beira – Viseu. De Viseu há auto-estrada para Aveiro. Nestes sites encontra informação útil: www.rtserradaestrela.pt, www.portalserradaestrela.com e www.serradaestrela.biz.”